A metalurgia do pó nas universidades: Ainda temos um longo caminho a trilhar…

Nossa, dá para fazer peças com a metalurgia do pó ?”

Ouço com frequência esta pergunta nas feiras de negócio em que participo. A curiosidade é muito grande, principalmente quando uma pequena prensa portátil começa a compactar pó e produzir peças em frente aos visitantes do estande.

Desta vez, no entanto, a pergunta ocorreu em um evento onde eu não esperava ouvi-la. Foi no Ptech 2011, edição mais recente do Congresso Internacional de Metalurgia do Pó, evento bianual que em Novembro de 2011 realizou-se na bela cidade de Florianópolis, SC. O evento reúne principalmente professores, doutores e alunos de todo o Brasil, além de outros países do mundo. Também participam representantes de empresas fabricantes de peças sinterizadas, equipamentos e serviços relacionados a esta técnica.

Voltando à pergunta, a autora foi uma estudante de engenharia de materiais que estava presente ao evento para apresentar seu trabalho sobre formulação de ligas especiais, feitas a partir de metalurgia do pó. Sim, é isto mesmo! Uma estudante de metalurgia do pó não sabia que a técnica poderia ser utilizada para fabricação seriada de peças de aço ou outras ligas metálicas. Imaginando ser um caso pontual, passei a demonstrar a pequena prensa a outros alunos e novamente, para a minha surpresa, a grande maioria nunca imaginara a aplicação desta técnica para este fim.

O caso citado mostra que ainda temos muito a trilhar para mostrar aos futuros engenheiros deste país que existe algo além da usinagem, fundição, estamparia, injeção e forjaria, que são processos de conformação metálica bem conhecidos e estudados em nossas universidades e aplicados na indústria nacional.

Participo também de palestras em universidades e escolas técnicas e sempre procuro saber o que os alunos recebem de informação sobre esta técnica em seus cursos. Noto que o engenheiro de materiais tem um conhecimento maior, pois a técnica permite o preparo de ligas com grande facilidade. Já o engenheiro mecânico ou de produção praticamente desconhece esta técnica, e isto em universidades federais, estaduais ou particulares de grande renome em nosso país.

Atualmente participo do Grupo Setorial de Metalurgia do Pó cujo objetivo é levar este conhecimento aos alunos de engenharia, principalmente mecânica e produção, para que estes se sintam a vontade para utilizar produtos sinterizados nas empresas em que vierem a atuar. Nas escolas técnicas, como o Senai, realizamos o mesmo tipo de trabalho e é gratificante ver a curiosidade e o interesse dos alunos por esta tecnologia. Fazemos isto através de palestras, demonstrações e participação em feiras de negócios. Todo material apresentado encontra-se disponível na internet (www.metalurgiadopo.com.br) para download gratuito e pode ser editado e utilizado pelos alunos no preparo de seminários e trabalhos acadêmicos.

Cabe destacar também um trabalho de parceria que estamos realizando com os alunos participantes do projeto universitário Baja-SAE. Trata-se de uma competição internacional entre universidades de vários países onde os alunos são desafiados a projetar e construir um veículo off-road. Posteriormente os veículos são submetidos a diferentes provas de desempenho, além de terem seu projeto avaliado por uma comissão de especialistas da indústria automobilística. O Brasil tem se destacado bastante nestas competições com vitórias em várias provas e conquistas de campeonatos.

Atualmente apoiamos duas equipes brasileiras: a Faculdade de Engenharia da FEI e a Politécnica da USP. Desenvolvemos com ambas a aplicação de componentes sinterizados para melhora do desempenho do veículo.

O Brasil passa por um momento onde a melhora da qualidade do ensino passou a ser (finalmente) uma meta importante para os nossos governantes. Novas tecnologias devem ser apresentadas aos nossos alunos e a Metalurgia do Pó, por sua extensa gama de produtos e aplicações, pode contribuir significativamente para a formação destes futuros profissionais.

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